Thursday, June 29, 2006

Reforços

Pontus Farnerud, meio-campo. Moisés, central. São estes até à data os dois reforços confirmados. Não tenho informações acerca do valor dos jogadores por isso vou esperar que eles tenham bons desempenhos e mostrem o valor que é suposto terem. O facto de serem atletas que entram "a custo zero" parece-me um aspecto positivo: o rigor de gestão obriga a que os dirigentes estejam mais atentos ao mercado de modo a estarem a par da situação de todos estes jogadores em final de contrato. E não creio que se trate de saldos; tenho visto por esse mundo fora jogadores de grande nível a serem contratados nestas condições. O SPORTING, por exemplo, na maior parte das vezes, tem-se dado bem com este recurso. Longe vão os tempos em que, de cada vez que se contratava um jogador, tinhamos que desembolsar três milhões de euros, mínimo.
E destaco ainda um aspecto que muitos poderão achar irrelevante mas ao qual eu dou grande valor: a descrição com que os negócios têm sido feitos. Fico satisfeito quando vejo que no nosso clube os atletas são notícia quando estão confirmados. Ao contrário de outros que alimentam as vendas de determinados jornais proporcionando capas com muito encarnado cheias de hipotéticas aquisições que, ou não se concretizam ou a cada capa espampanante que surge, o empresário do jogador aproveita para acrescentar mais meio milhão de euros ao valor do passe. Claro que há sempre a vantagem de nos rirmos um bocado com situações como aquela em que A Bola antecipava o onze titular do clube galináceo para um jogo de apresentação com o Jon Dal Tomasson a jogar de início.

Monday, June 26, 2006

Mais um para o futsal

Vencemos a Taça Nacional de futsal em juvenis. Estão de parabéns todos aqueles que conquistaram mais um título para o SPORTING.

Sunday, June 25, 2006

Bravos leões

Fazendo o pleno dos escalões de formação, o SPORTING sagrou-se campeão nacional de juniores, à semelhança do que tinha acontecido na época passada.
Uma grande saudação aos jogadores, equipa técnica e responsáveis. É assim que se trabalha.

Saturday, June 24, 2006

Temos mais campeões

O SPORTING venceu mais uma vez o campeonato de futsal. Parabéns aos jogadores e à equipa técnica.

Thursday, June 22, 2006

Contas difíceis

Portugal começou a jogar 10 contra 11 porque alinhou com o Postiga de início. Depois houve um mexicano que foi expulso: ficou 10 contra 10. Então Scolari resolve tirar Postiga para fazer entrar Nuno Gomes: continuamos 10 contra 10. Como Scolari ainda não estava satisfeito com a inclinação, substitui Figo por Boa Morte e acabamos a jogar 9 contra 10. Bem vistas as coisas o resultado foi óptimo.

Tuesday, June 20, 2006

México - Portugal

Não é preciso esperar por dia 21. Podem ver o resumo antecipado aqui.
Tele-lixo

Tornou-se insuportável ver estes programas sobre futebol que as televisões arranjam por alturas do Euro e do Mundial. É certo que o que existia antes não era grande coisa, mas desde o Euro 2004 que a televisões – todas – resolveram dar cabo da paciência de quem trabalha durante o dia e à noite quer ver o que se passou.
Contas feitas muito por alto, podemos verificar que de futebol há para aí uns 20%. O resto são reportagens idiotas sobre assuntos laterais, comentários de gente que não entende nada de bola, artistas pimba desejosos de tempo de antena a fazerem play-back com o inseparável cachecol. Enfim, tudo aquilo que o adepto de futebol quer ver a milhas de distância. Trata-se de pegar no futebol, que aqui não é mais do que um pretexto, para fazer programas de entretenimento do género daqueles que os canais têm aos dias de semana de manhã. A algazarra é total, não sei se há quem goste daquilo, mas os jornas mostram estar satisfeitíssimos a falar de todas aquelas insignificâncias.
Um dia destes eu quis ver o que se tinha passado em dois jogos aos quais não tive oportunidade de deitar olho. Sintonizei um desses programas ao calha. E aquela merda irritou-me mesmo. Antes de poder ver um minúsculo resumo de cada um desses jogos tive que levar com uma interminável reportagem sobre um gajo qualquer que pintou o carro de verde e encarnado – infelicidade a dele. Outra reportagem sobre um grunho espanhol que toca tambor e diz que vai a todos os mundiais – azar o dos que ficam ao lado dele. Mais uma reportagem sobre um cámone qualquer que tinha uma camisola de Portugal mas nem sabia muito bem porquê – devia ser a única que estava lavada. E tudo isto pontuado pelos comentários patéticos do jornalista-pivot que mostrava achar muita graça a todas estas insignificâncias. De futebol quase nada: trataram de despachar resumos de dois minutos para cada um desses jogos. Ou seja, num programa sobre o Mundial DE FUTEBOL, fico sem poder ver futebol porque as televisões andam entretidas à procura do que não interessa para depois mostrarem. Chama-se a isto tele-lixo.

Monday, June 19, 2006

Parabéns campeões

O SPORTING venceu os campeonatos nacionais de iniciados e juvenis. Parabéns às equipas técnicas e aos jogadores. Este trabalho vai valer a pena.

Wednesday, June 14, 2006

Deve ser gralha da lei

Perdi cinco minutos a pensar no nacional-bandeirismo e reparei que há aqui qualquer coisa que não bate certo. Tenho visto uma data de bandeiras penduradas às janelas que não cumprem as regras. Nem estou a falar daquelas que têm pagodes em vez de castelos. Estou a referir umas que por aí andam que, no canto inferior direito (zona do encarnado), têm um pedaço de verde onde se pode ler "Expresso" e " BES".
Vejam o decreto que aprova a bandeira nacional, em português da época:

"Decreto n.º 150, de 30 de Junho de 1911
Em cumprimento do decreto da Assembleia Nacional Constituinte, de 19 do corrente mês de Junho, se publica, para ter a devida execução, o seguinte:

Artigo 1.º A Bandeira nacional é bi-partida verticalmente em duas côres fundamentaes, verde-escuro e escarlate, ficando o verde do lado da tralha. Ao centro, e sobreposto á união das duas côres, terá o escudo das Armas Nacionaes, orlado de branco e assentando sobre a esfera armillar manuelina, em amarello e avivada a negro.

Art. 2.º O comprimento da bandeira será de vez e meia a altura da tralha. A divisoria entre as duas côres fundamentaes deve ser feita de modo a que fiquem dois quintos do comprimento total occupados pelo verde, e os tres quintos restantes pelo vermelho. O emblema central occupará metade da altura da tralha, ficando equidistante das orlas superior e inferior.

Art. 3.º Nas bandeiras das differentes unidades militares, serão talhadas em seda, a esfera armillar, em ouro, será rodeada por duas vergonteas de loureiro, também em ouro, cujas hastes se cruzam na parte inferior da esfera, ligadas por um lanço branco, onde, como legenda immortal, se inscreverá o verso camoneano: Está é a ditosa patria minha amada.
Altura d'esta bandeira - 1m,20.
Comprimento - 1m,30
Diametro exterior da esfera - 0m,40.
Distancia entre o diametro da esfera e a orla superior da bandeira - 0m,35.
Distancia entre o diametro da esfera e a orla inferior da bandeira - 0m,45.

Art. 4.º A orla do jack será verde e de largura igual a um oitavo da tralha. O escudo e a esfera armillar assentarão sobre o pano central, escarlate, ficando equidistantes das orlas superior e inferior. A altura do emblema central será de tres setimos da tralha. As flamulas serão verdes e vermelhas.

Art. 5.º Nos sellos, moedas e mais emblemas officiaes, a esfera armillar será sempre rodeada pelas duas vergonteas de louro, com as hastes ligadas por um laço, conforme o desenho adoptado para as bandeiras regimentaes."


Tudo bastante claro. E nenhuma referência ao tal product placement. Eu pensava que alterar a bandeira era cometer uma infracção à lei. Lembro-me que aqui há uns anos atrás João Grosso foi estranhamente processado por ter cantado o hino nacional em versão mais rápida. O argumento utilizado foi o de que qualquer alteração aos símbolos nacionais é passível de punição. Já não me lembro bem mas acho que aquilo não deu em nada. Desta vez temos também uma "alteração aos símbolos nacionais" e ninguém liga. Acho que já percebi: desde que seja para alimentar o fólclore patrioteiro, ou seja, desde que se tenha dinheiro para esbanjar, passa a ser possível não cumprir a lei. Tudo bem. Eu nem sequer gosto muito da bandeira nacional e o verde fica sempre bem.

Friday, June 09, 2006

Portugal no Mundial

Eu sei que é um bocado chato quebrar as ondas de euforia. Mas a sinceridade é uma coisa que eu estimo. Já há muitos anos que eu vejo a selecção (de futebol sénior) com alguma indiferença. Não sei muito bem qual a razão. Acho até que não deve ser apenas por uma só razão, mas sim por várias que têm aparecido ao longo dos anos. Sou português, gosto que Portugal ganhe, mas os resultados da selecção não me dizem muito: 20 minutos depois de Portugal ter perdido a final do europeu contra a Grécia, eu já não me lembrava do assunto. Qualquer jogo do SPORTING para o campeonato é para mim mais interessante do que um jogo da selecção. Eu sei que isto é assim com muitos portugueses. A diferença é que os outros têm vergonha em assumir isto porque acham que a sua dedicação ao país está posta em causa só por dizerem que o apoio à selecção de um país não é uma coisa que se tenha que fazer a qualquer preço. Eu não tenho problemas nenhuns com isso e como tal, repito: sim, a mim interessa-me muito mais o meu clube do que a selecção, seja em que circunstância for. Tenho legitimidade de pensar assim porque entendo que a dedicação ao país não se esgota em 90 minutos de exaltação patriótica. Há maneiras muito mais valiosas e sérias de mostrar a dedicação ao país. Fazer do apoio à selecção uma espécie de critério de portugalidade não passa de folclore para entreter os mais toscos.
Mas no caso concreto da selecção portuguesa, o que eu acho é que ela não se cansa de nos dar motivos para que pouco nos interessemos por ela. A selecção é basicamente um espelho do futebol deste país: amadora no meio de profissionais, com a mania das grandezas numa casa muito desarrumada e cheia de cagança sempre que está ao lado dos outros. Esta direcção administrativa (Madaíl) e técnica (Scolari) tem sido uma forma de exponenciar isso. O que me vem à cabeça sempre que ouço falar da selecção é aquela expressão: o rei vai nu.
Madaíl é um incompetente. Não há ninguém que não tenha percebido que aquele homem só ocupa aquele cargo porque em Portugal o sistema de eleição dos dirigentes da federação é do mais obtuso que se pode conceber, ainda por cima ilegal, violando a Lei de Bases aprovada na assembleia da república.
Depois temos o treinador Scolari, esse sim, um verdadeiro case study do que é, para mim, uma nefasta gestão do futebol. Scolari tem virtudes, como quase toda a gente. Uma das virtudes que ele tem é a de ser um especialista em matéria de comunicação, na boa tradição brasileira. O que eu mais destacaria do seu consolado é precisamente a forma quase sempre hábil como ele gere a sua carreira e os seus interesses. Depois há o outro lado da moeda. Começa logo com o facto de se tratar de um indivíduo mal-educado: cada vez que a coisa não lhe cheira trata de se defender, não com argumentos, mas com insultos, suspeitas, insinuações e provocações. Vai para os jornais brasileiros insultar os portugueses que ousam criticá-lo, não com argumentos ou com críticas, mas com insultos cobardolas. Veja-se o caso das conferências de imprensa que o indivíduo dá: aquilo não são conferências de imprensa, são comícios. Assim que alguém fizer uma pergunta que não lhe agrade, o assessor manda calar o jornalista que passará logo para a lista negra: a dos que deixam de estar nas boas graças da tropilha. Porque é que ninguém escreveu, ou disse, alto e bom som, que o adjunto de Scolari estava a dormir durante um jogo da selecção? Desgraçado do que o fizesse. Seria no mínimo apelidado de racista – expressão recorrente no vocabulário de Scolari – só por dizer a verdade. Na sua estratégia de marketing, certamente montada por um qualquer compatriota seu especialista na área, quem não está com ele é porque não está com a selecção, porque, diz ele, temos que estar todos concentrados nos objectivos desportivos. Só é pena que ele não seja o primeiro a dar o exemplo, arranjando uma rábula com a sua ida para Inglaterra, em pleno período de concentração para os tais objectivos. Com o tempo, Scolari foi apalpando o terreno de modo a perceber até onde podia ir. E já viu que até se pode dar ao luxo de não fazer aquilo para que é muito bem pago – ver os jogos do campeonato, por exemplo – que ninguém lhe diz nada. Como é um tipo esperto, tratou logo de perceber como funciona a generalidade dos jogadores portugueses para saber como os ter consigo. É certo que não é preciso muito. Qualquer um de nós, minimamente atento ao futebol português, sabe que essa história da união do grupo e do facto de Scolari ter “a equipa toda com ele”, como se diz por aí, não é assim tão difícil. Basta seleccionar sempre os mesmos, aquele grupinho que acha que é dono daquilo, faça o que fizer, depois dar-lhes muitas folgas e muitas liberdades, defendê-los perante a comunicação social sempre que eles fazem uma asneira qualquer e alinhar naquelas patetices meio místicas, meio patrioteiras de que a maior parte dos jogadores tanto gosta. Como é que se admite que jogadores profissionais vão para um estágio, façam alarvidades de puto de 15 anos em viagem de finalistas e o treinador e os adjuntos ainda os protejam com uma estúpida conversa acerca das liberdades pessoais, do sono, do descanso e dos hábitos higiénicos? É claro que eu não estava à espera de ver Scolari dizer que os jogadores se portaram mal, fizeram asneiras no hotel durante os estágio e portanto vão embora. Ainda assim, é patético ver um adjunto dizer que os «hábitos de higiene são da responsabilidade dos jogadores» só porque se soube que estes tinham feito disparates de adolescente parvo nas casas de banho do hotel onde estavam. Só que este Scolari, que faz um esforço enorme para passar a imagem do irredutível que nunca se deixa afectar, faz precisamente o contrário do que diz. Esta semana, para manter a sua aura de duro, deu um raspanete aos jogadores “para jornal ver”. O Figo, certo dia, resolveu que não ia mais à selecção, dizia ele que estava cansado e mais não sei quê. Toda a gente achou muito bem. Passados uns tempos, Figo fez contas e percebeu que estava a perder muito dinheiro nos contratos publicitários, pelo facto de não ir à selecção. Mudou de ideias. Scolari tratou logo de dizer que sim. E quase ninguém se lembrou de achar que tinha sido uma atitude pouco profissional, a de Figo, ficando à espera que fossem os seus colegas a conseguir o apuramento porque o cavalheiro “andava cansado”. Onde andava nessa altura o durão Scolari?
Se há coisa de que Scolari não gosta mesmo é de falar de futebol. Ao longo destes anos, tenho a impressão de que não vi o indivíduo, uma única vez, a falar de futebol. As suas conferências de imprensa, entrevistas, etc. são sempre sobre tudo menos sobre futebol. Porque na verdade não lhe interessa discutir o essencial; e assim passou à margem a patética figura que a selecção fez na final do EURO contra a Grécia. Ninguém ousou questionar sobre o assunto, a não ser os tais críticos que ele diz que são racistas. Neste momento as suas baterias estão apontadas para a estratégia do bode expiatório: o mundial ainda não começou e a estratégia da desculpabilização para a possibilidade de as coisas virem a correr mal já está montada: Madaíl diz a toda a hora que quando chegar a Lisboa vai ter umas coisas para dizer e Scolari anda com aquela do “sei quem são os quatro ou cinco” com quem vai ter que acertar contas. Ao menos esperavam pelos resultados. Estarem com desculpas antes de jogar é sinal de medo. Ou será que aprenderam com a experiência: é que Saltillo começou assim. Os ingredientes estão lá todos: tal como em 86 temos uma equipa de veteranos que vê a selecção como uma posse. Tal como em 86 temos um conjunto de jogadores que acham que já deram muito ao futebol português e a toda hora invocam isso para refutar a mais ligeira das críticas (os de 86 acharam que o apuramento quase milagroso lhes conferia o direito de fazer o que fizeram). Tal como em 86 os dirigentes assobiam para o lado sempre que são chamados à razão. Tal como em 86 a maior parte dos jornalistas estava tão contente por estar no Mundial que se esqueciam de dizer o que se estava a passar. Tal como em 86 tivemos uma convocatória, no mínimo estranha. E assim sucessivamente: não vale a pena estar aqui a lembrar coisas que são mesmo para esquecer.
Não se trata de estar aqui com pessimismos. Não gosto nada do que tem sido a preparação da selecção até à data. Ficarei satisfeito se forem campeões do mundo. Não é isso que me vai fazer mudar de ideias acerca de Scolari, da maioria dos jogadores, dos dirigentes da federação e dos jornalistas que tão entusiasmados andam atrás de tudo o que seja verde e encarnado.
Peço desculpa pelo tamanho do texto e desejo-vos um bom fim-de-semana desportivo na companhia da final de Roland Garros e do Portugal – Ucrânia em andebol (apuramento para o Mundial de 2007).

Wednesday, June 07, 2006

Teaser

Eu vou postar sobre a selecção. Só não o fiz porque ainda ando à procura de um sítio para onde fugir depois de publicar a posta. Já não falta muito, tenham lá paciência.

Tuesday, June 06, 2006

Fruta da época

Está na altura de saírem da toca os dignos representantes de algumas espécies que costumam dar à costa nestas alturas. À custa do futebol, há uma quantidade enorme de palermas que vêem aumentado o seu tempo de antena, dando largas à sua militante imbecilidade. O futebol é mesmo uma coisa que dá para tudo. E toda a gente acaba por se aproveitar dele. Do conjunto de figurinhas que agora surgem, eu destacaria três tipos: as jornaleiras histéricas, os pseudo-intelectuais anti-futebol e os patrioteiros bandeirola.

Jornaleira histérica:

A jornaleira histérica é geralmente uma jornalista jovem. Não percebe nada de futebol e está ali apenas para o entretenimento. Faz reportagens em casa dos jogadores sempre naquele tom coloquial-descontraído, como se conhecesse há 20 anos o jogador que tinha visto pela primeira vez, dez minutos antes de a câmara começar a gravar. Os temas da conversa não vão além de assuntos como os tempos livres, a contribuição para causas sociais, e os estágios longe da família. Lá para o fim pega ao colo do pimpolho mais novo do jogador e faz-lhe umas festinhas enquanto o puto se baba. Depois pede ao de 5 anos para pegar no microfone e dizer umas patetices quaisquer.
A jornaleira histérica também faz directos. Os jornas têm a mania que o directo lhes dá um estatuto especial. Os directos preferidos da jornaleira histérica consistem em ir para um daqueles bares decorados com bandeiras de Portugal e do Brasil, música brasileira a acompanhar, muito barulho e muita confusão. Aí a jornaleira atinge o pleno: vai para a esplanada e começa a perguntar aos grunhos que se dispõem a responder, qual vai ser o resultado do jogo. 2-1; 3-0; 4-2 e é vê-la toda contente como se aquilo fosse importante. Às mulheres, a jornaleira pergunta qual é o seu jogador preferido: é tão estúpida que se esquece que a maioria das mulheres não são estúpidas como ela e, como tal, no futebol interessa-lhes muito mais do que o peito deste e o cu daquele. É machista porque acha que as mulheres gostam de futebol por causa de poderem ver homens. Tem tanto mau gosto que nem se apercebe que, se as mulheres quiserem ver homens interessantes, têm mais sítios para os procurar do que o futebol.
A jornaleira histérica adora ir para a confusão depois de uma vitória da equipa portuguesa. Aí é que é: aqueles mitras todos que vêem bola em ecrãs gigantes, bebendo cerveja em copos de plástico, aproximam-se para grunhir umas alarvidades saloias contra o país que acaba de perder. Há um ou dois que aparecem de telemóvel na mão e há um que manda beijinhos para casa. Quando o emplastro anda por perto é a única forma de aquilo ter interesse. Para a jornaleira histérica, desporto e teatro de revista são a mesma coisa: lá dão para ela espraiar a sua ignorância em intermináveis programas sem ponta de interesse jornalístico. Se perguntarem às jornaleiras histéricas o que é um fora-de-jogo, 99% dirão que «é quando a bola sai do campo».

Pseudo-intelectual anti-futebol

O pseudo-intelectual anti-futebol é geralmente um daqueles que de intelectual não tem nada. Nunca escreveu, pintou, ou tocou nada de jeito. Fica-se apenas por ser crítico desta ou daquela área. Ou então comentador convidado de um jornal qualquer. Porque o pseudo-intelectual anti-futebol não faz. Comenta, critica e analisa. Que é o mesmo que dizer que é um frustrado. Como os verdadeiros intelectuais são inteligentes e as pessoas inteligentes costumam gostar de desportos, de jogos, de desafios, de um pouco de irracionalidade e paixão desmedida até, o pseudo-intelectual anti-futebol é alguém que vive um bocado ressabiado com o que lhe passa ao lado. Invoca a toda a horas a supremacia da leitura e de outras temáticas que ele acha nobres, como se fosse impossível uma pessoa gostar de futebol e ter também outro tipo de interesses: para ele, não entra na cabeça a ideia de se poder gostar de futebol e de outro tipo de actividades em simultâneo. O pseudo-intelectual anti-futebol vê no futebol a causa de todos os males nacionais: o país não se desenvolve porque se gasta muito dinheiro com o futebol, as crianças não aprendem na escola porque só pensam em futebol e por aí fora. O pseudo-intelectual anti-futebol é um frustrado: quando tinha 12 anos era gozado por toda a turma por não ser capaz de chutar uma bola. O trauma ficou-lhe e agora vinga-se. E vinga-se vindo com umas larachas pseudo-intelectuais como se isso servisse de caução para os disparates que vai espalhando. É certo que a maior parte dos intervenientes do futebol português não se cansam de arranjar motivos para que as pessoas olhem de lado para o futebol: ter gente como Valentim Loureiro e Gilberto Madaíl a dirigir o futebol, parece de propósito para que se ganhe logo uma antipatia pelo tema. No entanto, importa separar as águas: o futebol é uma coisa, a sua organização, quem dirige, quem joga, quem treina e quem arbitra são outra. Estes intelectuais são invariavelmente uns chatos. Têm uma visão provinciana do que eles acham que é a cultura e falta-lhes uma virtude fundamental para serem intelectuais como pretendem: não têm capacidade de perceber que cada coisa tem o seu lugar e que uma pessoa não é mais ou menos estúpida por gostar ou não de desporto.

Patrioteiro bandeirola

O patrioteiro bandeirola compra um arsenal de kits com bandeiras e restante tralha nas lojas do chineses, decorando a casa e o carro com o mesmo sentido de missão com que arma a árvore de natal e monta o presépio. Um misto de obrigação e satisfação. É para apoiar, dizem eles. O patrioteiro bandeirola descobre um enorme orgulho em ser português, mas apenas quando a selecção joga. 15 dias depois do mundial acabar já está ele no café a pregar bem alto que “este país é uma miséria” e “não tem ponta por onde se pegue” a propósito de um notícia qualquer sobre as actividades de alguém que desempenhe um cargo público. Aí sente-se no direito de julgar e condenar quem seja apenas suspeito, invocando que é por causa desses que o país «não anda para a frente». O patrioteiro bandeirola conduz à chico-esperto, compra umas coisas sem factura «porque até conhece um gajo que trabalha nessa cena» e arranja um esquema qualquer para aldrabar a declaração do IRS. Aí, o “amor à pátria” já não conta. Afinal, o “país não anda para a frente por causa deles”[os políticos, presumo]. E não por causa de chicos-espertos como ele. O patrioteiro bandeirola é capaz de armar uma zaragata só porque alguém se lembra de dizer que o Abel Xavier fez mesmo penálti. Para o patrioteiro bandeirola tudo o que os jogadores da sua equipa fazem está sempre certo. As falhas devem-se sempre aos outros que nos roubam, porque, diz o patrioteiro bandeirola, «há muitos interesses para prejudicar Portugal», sem nunca especificar quais. O patrioteiro bandeirola é o tuga por excelência: é grunho e tem orgulho nisso. Adora perder tempo com tudo o que não interessa para nada.
Enfim, fruta da época. Isto passa.

Thursday, June 01, 2006

R.I.P.

Faleceu Vitorino Bastos. Que fique em Paz. Condolências à família.