Tuesday, April 24, 2007

Calha a vez a todos

O empata-obras não descansa. Desta vez lembrou-se de nós. Vamos lá então tentar perceber o que se passa.
É óbvio que uma construção como aquela que o SPORTING pretende realizar na zona do seu antigo estádio deve ser feita com cautelas. A zona já é um pouco saturada e, uma vez que se vai mexer, deve-se aproveitar a oportunidade para que se façam alterações no sentido de melhorar o local. Como é evidente, acho legítimo que algumas pessoas e instituições dêem a sua opinião.
Mas convém não esquecer que o SPORTING avançou para esta tarefa contando com pressupostos que a seu tempo foram acordados. E uma empreitada destas não deve mudar ao sabor de opiniões soltas que por aí vão aparecendo. Ainda por cima, tratando-se de opiniões cujo objectivo é politiqueiro e não ecologista ou urbanista. O SPORTING, neste momento, perde dinheiro por cada dia que a obra atrasa. Claro que o vereador empata-obras não quer saber disto para nada pela simples razão de que o dinheiro em causa não é seu. O vereador empata-obras tem apenas uma preocupação: manter a tradição demagógica do seu partido e apelar à indignação fácil das pessoas. O vereador empata-obras, por exemplo, sabia muito bem que o famigerado túnel do Marquês seria sempre para avançar. Isso não o coibiu de tudo fazer para embargar a obra. Ele sabia - acredito que não seja completamente estúpido - que essa sua atitude populista para telejornal exibir, iria ter custos muito elevados. Só que isso nada o preocupou: o túnel vai abrir um dia destes, gastou-se dinheiro, perdeu-se tempo e cansou-se a paciência dos lisboetas. No entanto, o vereador empata-obras está satisfeito: tudo na mesma mas ele fez barulho e foi lá para o meio dos andaimes armar em Robin dos Bosques da ecologia urbana. O truque todos nós o conhecemos: veste a pele de justiceiro das causas do povo, debita umas frases despropositadas sobre o poder que ele entende que os poderosos - assim num plural vago - têm e faz um ar de vítima determinada contra tudo e contra todos. Não passa de populismo barato de quem está muito mais preocupado em parecer do que em ser. Será que algum ecologista com dois dedos de testa reconhece no vereador empata-obras um legítimo defensor da causa? Claro que não: não tivesse ele a capacidade de exposição mediática por pertencer ao folclórico partido a que pertence e estaria a esta hora calado e sem se andar a armar aos cucos.
Já agora, onde é que estava o vereador empata-obras quando toda a zona do estádio dos galináceos foi remodelada? Ou será que ele acha aquilo um exemplo de "edificação de espaços verdes", como ele diz? Se calhar é esse o caso e nós andamos a ver mal. O Media-Market não é um supermercado de electrodomésticos mas sim uma espécie de jardim botânico. Todo aquele alcatrão que vai do estádio até aos prédios a norte é afinal um um enorme jardim com lagos, todos os dias cheio de crianças a brincar e de passarinhos a cantar. E do outro lado não está um stand de automóveis. Está um interessante museu dedicado a assuntos da natureza. Deve ser isso... É que o vereador empata-obras, na altura, esteve calado. Se calhar tinha outras obras para embargar.
No outro dia, apareceram lá na rua do vereador empata-obras uns almeidas a limpar as caixas de esgoto. Logo veio o vereador empata-obras meter o bedelho. "Óh fachavor, o sr. não pode abrir essa caixa de esgoto sem autorização da Assembleia da República, com maioria qualificada de dois terços e aprovação prévia do Tribunal de Contas, do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional". Ao que o almeida lhe terá respondido, citando o conhecido filósofo contemporâneo português Marco, "o sr. empata-obras fala, fala mas eu não o vejo a fazer nada. Deixe-nos trabalhar que a merda do esgoto precisa de ser limpa." Quando esta cena se deu, claro, as três televisões, bem como mais umas dezenas de jornalistas, já lá estavam com o tripé montado.
Imagino que nas redações dos jornais ninguém fique surpreendido se por lá aparecer um fax, um dia destes, convocando os jornalistas para uma sessão pública de indignação, daquelas ao jeito do partido do vereador empata-obras, por causa de um "poderoso" qualquer que se sentiu aflito e teve que mijar atrás de uma árvore no Parque Eduardo VII. Mijar numa árvore? Um atentado, claro.

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