Fruta da época
Está na altura de saírem da toca os dignos representantes de algumas espécies que costumam dar à costa nestas alturas. À custa do futebol, há uma quantidade enorme de palermas que vêem aumentado o seu tempo de antena, dando largas à sua militante imbecilidade. O futebol é mesmo uma coisa que dá para tudo. E toda a gente acaba por se aproveitar dele. Do conjunto de figurinhas que agora surgem, eu destacaria três tipos: as jornaleiras histéricas, os pseudo-intelectuais anti-futebol e os patrioteiros bandeirola.
Jornaleira histérica:
A jornaleira histérica é geralmente uma jornalista jovem. Não percebe nada de futebol e está ali apenas para o entretenimento. Faz reportagens em casa dos jogadores sempre naquele tom coloquial-descontraído, como se conhecesse há 20 anos o jogador que tinha visto pela primeira vez, dez minutos antes de a câmara começar a gravar. Os temas da conversa não vão além de assuntos como os tempos livres, a contribuição para causas sociais, e os estágios longe da família. Lá para o fim pega ao colo do pimpolho mais novo do jogador e faz-lhe umas festinhas enquanto o puto se baba. Depois pede ao de 5 anos para pegar no microfone e dizer umas patetices quaisquer.
A jornaleira histérica também faz directos. Os jornas têm a mania que o directo lhes dá um estatuto especial. Os directos preferidos da jornaleira histérica consistem em ir para um daqueles bares decorados com bandeiras de Portugal e do Brasil, música brasileira a acompanhar, muito barulho e muita confusão. Aí a jornaleira atinge o pleno: vai para a esplanada e começa a perguntar aos grunhos que se dispõem a responder, qual vai ser o resultado do jogo. 2-1; 3-0; 4-2 e é vê-la toda contente como se aquilo fosse importante. Às mulheres, a jornaleira pergunta qual é o seu jogador preferido: é tão estúpida que se esquece que a maioria das mulheres não são estúpidas como ela e, como tal, no futebol interessa-lhes muito mais do que o peito deste e o cu daquele. É machista porque acha que as mulheres gostam de futebol por causa de poderem ver homens. Tem tanto mau gosto que nem se apercebe que, se as mulheres quiserem ver homens interessantes, têm mais sítios para os procurar do que o futebol.
A jornaleira histérica adora ir para a confusão depois de uma vitória da equipa portuguesa. Aí é que é: aqueles mitras todos que vêem bola em ecrãs gigantes, bebendo cerveja em copos de plástico, aproximam-se para grunhir umas alarvidades saloias contra o país que acaba de perder. Há um ou dois que aparecem de telemóvel na mão e há um que manda beijinhos para casa. Quando o emplastro anda por perto é a única forma de aquilo ter interesse. Para a jornaleira histérica, desporto e teatro de revista são a mesma coisa: lá dão para ela espraiar a sua ignorância em intermináveis programas sem ponta de interesse jornalístico. Se perguntarem às jornaleiras histéricas o que é um fora-de-jogo, 99% dirão que «é quando a bola sai do campo».
Pseudo-intelectual anti-futebol
O pseudo-intelectual anti-futebol é geralmente um daqueles que de intelectual não tem nada. Nunca escreveu, pintou, ou tocou nada de jeito. Fica-se apenas por ser crítico desta ou daquela área. Ou então comentador convidado de um jornal qualquer. Porque o pseudo-intelectual anti-futebol não faz. Comenta, critica e analisa. Que é o mesmo que dizer que é um frustrado. Como os verdadeiros intelectuais são inteligentes e as pessoas inteligentes costumam gostar de desportos, de jogos, de desafios, de um pouco de irracionalidade e paixão desmedida até, o pseudo-intelectual anti-futebol é alguém que vive um bocado ressabiado com o que lhe passa ao lado. Invoca a toda a horas a supremacia da leitura e de outras temáticas que ele acha nobres, como se fosse impossível uma pessoa gostar de futebol e ter também outro tipo de interesses: para ele, não entra na cabeça a ideia de se poder gostar de futebol e de outro tipo de actividades em simultâneo. O pseudo-intelectual anti-futebol vê no futebol a causa de todos os males nacionais: o país não se desenvolve porque se gasta muito dinheiro com o futebol, as crianças não aprendem na escola porque só pensam em futebol e por aí fora. O pseudo-intelectual anti-futebol é um frustrado: quando tinha 12 anos era gozado por toda a turma por não ser capaz de chutar uma bola. O trauma ficou-lhe e agora vinga-se. E vinga-se vindo com umas larachas pseudo-intelectuais como se isso servisse de caução para os disparates que vai espalhando. É certo que a maior parte dos intervenientes do futebol português não se cansam de arranjar motivos para que as pessoas olhem de lado para o futebol: ter gente como Valentim Loureiro e Gilberto Madaíl a dirigir o futebol, parece de propósito para que se ganhe logo uma antipatia pelo tema. No entanto, importa separar as águas: o futebol é uma coisa, a sua organização, quem dirige, quem joga, quem treina e quem arbitra são outra. Estes intelectuais são invariavelmente uns chatos. Têm uma visão provinciana do que eles acham que é a cultura e falta-lhes uma virtude fundamental para serem intelectuais como pretendem: não têm capacidade de perceber que cada coisa tem o seu lugar e que uma pessoa não é mais ou menos estúpida por gostar ou não de desporto.
Patrioteiro bandeirola
O patrioteiro bandeirola compra um arsenal de kits com bandeiras e restante tralha nas lojas do chineses, decorando a casa e o carro com o mesmo sentido de missão com que arma a árvore de natal e monta o presépio. Um misto de obrigação e satisfação. É para apoiar, dizem eles. O patrioteiro bandeirola descobre um enorme orgulho em ser português, mas apenas quando a selecção joga. 15 dias depois do mundial acabar já está ele no café a pregar bem alto que “este país é uma miséria” e “não tem ponta por onde se pegue” a propósito de um notícia qualquer sobre as actividades de alguém que desempenhe um cargo público. Aí sente-se no direito de julgar e condenar quem seja apenas suspeito, invocando que é por causa desses que o país «não anda para a frente». O patrioteiro bandeirola conduz à chico-esperto, compra umas coisas sem factura «porque até conhece um gajo que trabalha nessa cena» e arranja um esquema qualquer para aldrabar a declaração do IRS. Aí, o “amor à pátria” já não conta. Afinal, o “país não anda para a frente por causa deles”[os políticos, presumo]. E não por causa de chicos-espertos como ele. O patrioteiro bandeirola é capaz de armar uma zaragata só porque alguém se lembra de dizer que o Abel Xavier fez mesmo penálti. Para o patrioteiro bandeirola tudo o que os jogadores da sua equipa fazem está sempre certo. As falhas devem-se sempre aos outros que nos roubam, porque, diz o patrioteiro bandeirola, «há muitos interesses para prejudicar Portugal», sem nunca especificar quais. O patrioteiro bandeirola é o tuga por excelência: é grunho e tem orgulho nisso. Adora perder tempo com tudo o que não interessa para nada.
Enfim, fruta da época. Isto passa.
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