É na porta ao lado
A final do Mundial deu para perceber que anda por aí muita gente que confunde futebol com catequese e que pensa que um estádio deve ser uma igreja. Lamento mas enganaram-se na porta.
Começo pelas evidências. Aliás, o assunto deveria resumir-se apenas às evidencias; acontece que há pensadores que acham que não e resolveram lançar um levantamento de poeira com pompa e circunstância.
Evidência 1: Zidane agrediu um adversário. Evidência 2: Zidane foi expulso.
Pronto. O assunto deveria ficar por aqui. Só que apareceu logo a malta do costume a aproveitar o tema para lançar mais uma daquelas campanhas de moralismo bacoco, tão da predilecção deste tipo de defensores da verdade. E mesmo aqueles que, como eu, se têm mantido afastados desta gritaria histérica, acabam por tropeçar nestas sessões de hipocrisia barata que andam aí pelos jornais, televisões, rádios, etc. Não há opinador profissional (ou candidato a) que não se tenha lembrado de descobrir "mais um aspecto da questão" que deve ser discutido "até para servir de exemplo". E depois vamos ver e só sai verborreia. Acho mesmo que este tipo de emplastros da comunicação social gosta que estas coisas aconteçam que é para depois poderem cagar as suas divagações pseudo-qualquer coisa e aparecerem assim sob a capa de respeitáveis, conscientes e impolutos defensores da verdade desportiva.
No meio da chinfrineira eu também poderia perguntar algumas coisas simples. Saberão estes moralistas quem é Materazzi, que lesões graves já causou, quantas vezes foi expulso e que utilidade é que ele em campo dá aos seus braços para lá da ostentação de umas tatuagens pindéricas? Já nem vou ao ponto de invocar o que o italiano disse; o que quer que tenha sido, nada legitima a atitude de Zidane. E por isso é que ele foi bem expulso. O que é perigoso é esta moda de tomar alguns casos particulares para a partir daí os utilizar como exemplo: dá sempre asneira. Porque a justiça serve para punir (e Zidane foi punido) e não para humilhar.
Não resisto, no meio deste barulho todo, a referir o mais patético disparate que ouvi acerca do assunto (adivinhem lá quem foi o autor?), nos breves momentos de programa a que assisti: utilizando o seu tempo de antena semanal de verborreia, o opinador Seara perguntava, indignado, "como é que ele [Zidane] iria explicar aquilo aos filhos?" Ora, eu acho a pergunta pertinente, a necessitar de investigação prévia muito detalhada, apurada análise bibliográfica, leitura integral da Bíblia e consulta a um vasto leque de especialistas do tema. Ainda assim acho que deve ser mais fácil a tarefa do francês perante os seus filhos do que explicar a uma criança o que é que aquele sujeito está para ali a dizer na televisão, dando saltinhos na cadeira? Essa sim, pergunta de difícil reposta.
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