As férias da pequenada
Aos solavancos, parece que o futebol cá da terra vai voltar à actividade. As expectativas do reencontro são enormes: vão-se discutir as prendas que o Pai Natal trouxe; o estado de saúde das respectivas avózinhas; as folias da passagem de ano; o estado dos bicos de papagaio das mãezinhas, enfim, uma enormidade de assuntos, todos eles extremamente pertinentes, e que mostraram como era fundamental que a rapaziada que joga à bola por estas paragens tivesse que viajar para as suas terrinhas e passar o natal com as respectivas famílias. As coisas bonitas que o natal propicia.
E ficou tudo muito contente: tenho a certeza que a generalidade dos dirigentes, árbitros, delegados, bandeirinhas, treinadores e restante pessoal da bola acharam fantástica a ideia de parar o campeonato a meio.
Talvez quem não tenha gostado muito tenham sido os dirigentes responsáveis que se viram a braços com a situação de ter que pagar salário e subsídio de natal num mês em que não tiveram mais do que um jogo em casa. Mas isso parece lateral.
Ora eu, simples adepto, daqueles que contribuem para que o futebol exista enquanto tal, uma vez que não faço parte do esquema das borlas, acho muito mal esta paragem. E por vários motivos: primeiro porque este interregno vai acarretar consequências ao nível da preparação física dos jogadores, prejudicando o espectáculo; depois porque é muito mau em termos financeiros para os clubes; em terceiro porque revela uma falta de profissionalismo enorme da parte dos dirigentes que deviam fazer tudo para promover o futebol. Alguém consegue entender como é que num período como o natal, propício ao espectáculo e ao respectivo consumo, a malta do futebol mete a viola no saco e vai a banhos? Isto é tão disparatado como se os trapezistas e os palhaços do circo - os verdadeiros e dignos - resolvessem não actuar na semana de natal para o passar com as famílias. Ninguém entenderia porque o circo é um espectáculo de natal. No futebol português, as brilhantes cabeças que o dirigem, resolvem que não é nada assim e que a rapaziada tem que passar o natal na terrinha. Não tendo nada contra o espírito de harmonia familiar, entendo que há certas profissões que estão condicionadas por razões óbvias e que não se podem dar a esses caprichos. Um jogador de futebol necessitar de parar quinze dias precisamente a meio de uma competição profissional extremamente dispendiosa, vale o mesmo que um guada nocturno dizer que só faz rondas de dia porque precisa de dormir à noite.
Claro que a culpa não é dos jogadores mas sim de quem, com esta atitude, revela o que no fundo lhes vai na cabeça: que esta história do futebol não passa de uma actividade paralela nas suas vidas: alguns dirigentes portuguese mostram, de uma forma indirecta, que isto não é mais do que um passatempo. Porque no seu entendimento, os ingleses que inclusivamente jogam no dia de natal como no ano passado, não percebem nada disto. Madaíl, Loureiro - ou lá quem manda na Liga agora - é que sabem como gerir uma competição profisional. Já estamos a imaginar uma excursão de dirigentes ingleses a deslocarem-se a Portugal para aprenderem como gerir bem uma competição deste tipo.
E pronto: tivemos espírito natalício. Venham as férias do carnaval para sambar in loco e as da páscoa para comungar na lá na igreja da terrinha. E o campeonato que acabe lá para Julho e a malta que paga para o ver que se lixe.
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