Tuesday, January 11, 2005

O lugar da estupidez

Como diria Musil, a estupidez define-se pelo recurso intensivo a lugares-comuns. Estes não passam de formas simplistas que invariavelmente são aplicadas sem a percepção clara da situação que se quer definir. Perante uma determinada situação é mais difícil reflectir e considerar várias perspectivas possíveis do que simplesmente pregar com um chavão, de preferência um daqueles que toda a gente conheça, que possa ser aplicado em várias situações e que, por isso mesmo, não queira dizer rigorosamente nada.
A propósito do atraso de Liedson, tudo o que eu tenho lido e ouvido, não passa da mais banal cartilha do lugar-comum. Mal intencionado, ainda por cima. Os fazedores de opinião da praça, jornas ou não, trataram logo de «disponibilizar» a versão oficial da situação para que o povo se pudesse sentir um pouco mais esclarecido. E aí temos o conceito de rigor de gestão que esta maltinha professa: no seu entender, Liedson, cometeu uma falha grave e deveria ser punido com o afastamento da equipa principal, sendo que só desta maneira o clube poderia defender os seus interesses e o treinador a sua integridade bem como a do seu grupo de trabalho. E temos então toneladas de palavrório em que todos dizem o mesmo. Os lugares -comuns de que tanto gostam... Acontece que no enorme grupo de pessoas que vêem futebol ainda há gente que usa a cabeça para pensar.
E qualquer pessoa que reflicta um pouco facilmente verifica que há diversas formas de penalizar uma situação destas. Dizer que Liedson teria que ser afastado do grupo principal é a mesma coisa que dizer que um pai, perante o comportamento indevido de um filho, teria que o penalizar dando-lhe uns açoites. Estamos todos de acordo que há outras formas mais inteligentes e proveitosas de um pai exercer a sua autoridade, mas se calhar menos visíveis. Para estes opinadores, se o pai não der duas galhetas no filho à frente de toda a gente estará a perder autoridade: não admitem que o pai pode - e deve - repreender o filho sem ter que fazer espectáculo público e não recorrendo à violência.
Para mim, o que a direcção do SPORTING fez foi correcto: não deu espectáculo público, protegeu os interesses do clube e do jogador e aplicou-lhe uma medida adequada. Para os opinadores, incomodados com os dois golos, claro, o clube e o treinador cederam. Mas porquê? Não se percebe. Essa maltinha da opinião oficiosa nunca se deu ao trabalho de pensar que há formas muito mais adequadas de punir um jogador de futebol do que pondo-o à parte da equipa principal, medida que, mais do que o jogador, prejudicaria o clube. Como dois golos incomodam tanto...

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