Thursday, June 16, 2005

Não convence

Eu gosto do Liverpool. Já o disse aqui algumas vezes; tiveram na passagem da década de 70 para a de 80 um período fantástico na história do futebol. E depois há Ian Rush: esse jogador com a estranha doença de não conseguir passar 90 minutos sem marcar um golo. E há ainda o mais fantástico hino cantado por uma claque de futebol: you'll never walk alone. E outras coisas mais que tornaram o clube admirável. Este ano ganharam, e bem, a Liga dos Campeões. Só que, em virtude da sua classificação na Liga Inglesa, não tiveram acesso à Liga dos Campeões do próximo ano. Iam à UEFA, era o que parecia.
Mas alguém se lembrou de achar que era injusto o vencedor não poder defender o troféu. Comissão do clube a caminho da UEFA, a FIFA a mandar o bitaite do costume e a imprensa a fazer banzé. E eis que, numa decisão contra o que estava estipulado, aí temos o Liverpool na Liga dos Campeões. Parece pacífica, mas não é. Porque assenta na deturpação de alguns argumentos. Vejamos: o principal é o de que seria justo o vencedor poder defender o troféu ganho. Este argumento é uma mistificação: o Liverpool sabia desde o início qual a classificação que deveria obter para poder aceder à Liga dos Campeões. Ou seja, nada, a não ser a sua prestação na Liga Inglesa, os impede de defender o seu título. Uma prova deste tipo não tem presenças garantidas por nenhum factor, além da classificação nas ligas dos vários países. Portanto, o Liverpool teve a possibilidade de poder ir defender a prova que viria a ganhar. Só que, dada a sua classificão interna, não o conseguiu. Ou seja, por culpa própria perdem esse privilégio de poder defender o título. Trata-se então de uma mistificação porque o Liverpool foi colocado num lugar que não era o seu com esse argumento da defesa do título. Imaginem que esta época o Porto vinha reclamar a possibilidade de poder defender um título de que é detentor: a Supertaça Cândido de Oliveira. O Porto argumentaria que era injusto não estar lá para a defender. Pois... a questão é que o Porto sabia que para defender esse título conquistado tinha que ganhar ou Liga ou Taça de Portugal, o que não conseguiu. A questão essencial é esta: não se trata de um jogo de bisca-lambida em que o vencedor aceita colocar o título em aberto. Nas competições europeias de futebol está estabelecida uma relação entre as várias provas, nacionais e internacionais. E é no âmbito dessa relação que se estabelece a presença nas várias competições. Ou seja, O Liverpool só poderia dizer que estava a ser impedido de defender o título conquistado, se tivesse sido impedido de disputar a Liga Inglesa que é a prova que dá acesso à Liga dos Campeões. E o Liverpool, disputou a prova... só que não atingiu a necessária classificação. O que faz com que, nestes termos, seja falso esse argumento de não poderem defender o título. Tivessem pensado no assunto antes porque as regras já há muito que estavam definidas.
Considero, deste modo, imprudente e perigosa - embora não inédita - esta decisão da UEFA: abre mais um grave precedente. E não venham com a história de que ninguém sai prejudicado porque o Everton vê os seus direitos garantidos, ao contrário do Saragoça em Espanha há uns anos atrás. O Porto, por exemplo, com esta alteração muda de grupo no sorteio da prova (desce para outro «pote» de clubes).

Enfim, agora a sério porque as linhas anteriores foram a brincar. Eu substituía a presença do Benfica na Liga dos Campeões, dando lugar ao Liverpool: camisola encarnada por camisola encarnada o Liverpool sempre é um clube com muito mais piada. Resolvia-se assim a questão de uma forma coerente e ficavam todos a ganhar: o Liverpool e os adeptos de futebol que se livravam de ter que levar com o clube galináceo a disputar uma prova à qual não teve direito. Porque, na verdade, quem devia lá estar era uma equipa constituída por Paulo Paraty, Hélio Santos, João Ferreira, Paulo Batista, António Costa e outros artistas do mesmo calibre - os verdadeiros vencedores da Superliga este ano.

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