Thursday, July 07, 2005

Quem vier a seguir que pague a factura

Eu já tinha percebido que a organização do Euro 2004 em Portugal não tinha servido de lição. A prova é que quem tem responsabilidades e contas a prestar prefere falar de «bandeirinhas na janela»; «mobilização nacional» e outras balelas inócuas em vez de questionar o disparate que foi a construção de tantos estádios novos - alguns dos quais vão servindo apenas para o clube galináceo jogar quando tem medo de ir a casa do adversário.
O que eu julgava é que perante a situação económica do país este tipo de megalomanias pseudo-desportivas iam ficar em stand-by (a melhoria do desporto em Portugal não passa pela construção de estádios ou infra-estruturas do género). Mas não. Já temos no horizonte mais uma ideia disparatada: a candidatura à organização de uns jogos olímpicos. E tudo se torna mais preocupante quando o actual primeiro-ministro, aqui há dois ou três anos, andou a dar entrevistas mostrando-se entusiasmado com a ideia.
Só a candidatura envolve meios financeiros incomportáveis para um país como o nosso - será que eles já ouviram falar do défice que Portugal tem; do crescimento do PIB; do preço do petróleo e da nossa dependência energética crónica, entre outras «insignificâncias» do género? Será que quem manda estes bitaites par o ar sabe o que custa verdadeiramente uma organização deste tipo?
No meio disto tudo a única coisa que me custa é perceber que a gestão do desporto em Portugal está entregue a pessoas que pensam desta maneira. Isso é que é preocupante. Que interessa que atletas portugueses de modalidades olímpicas não participem em provas internacionais porque ninguém é capaz de lhes custear as despesas de deslocação? Que interessa que atletas de modalidades olímpicas tenham que reservar as suas férias laborais para a participação em provas? Nada.
Mas não fiquem tristes: temos candidatura megalómana no horizonte. Também temos uma federação e uma liga (de andebol) que não se entendem e estão a colocar em causa a prática da modalidade. Também temos uma Liga de Futebol Profissional que não cumpre a lei do país uma vez que é ela que domina o orgão que coordena a arbitragem, e não devia. Temos muitas anomalias na organização desportiva, que o facto de sermos, dos 25 da Europa, aquele em menos pessoas praticam desporto regularmente bem atesta. Mas alguns querem-se candidatar a uma organização faraónica, e isso é que interessa para podermos continuar a parecer ricos, mesmo que não passemos de uns pobretanas de mão esticada a toda a hora.
Quem vão ser os dirigentes desportivos que se vão, desde o início, mostrar «muito entusiasmados» com a ideia? Não é difícil adivinhar.

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