Altiparóbaile que eu também tenho opinião sobre o Chelsea
Este post é sobre rolhas.
Nos últimos tempos despertou um novo movimento na classe comentarística portuguesa: o estabelecimento do fim de Mourinho e do Chelsea do russo, tal como até agora eram conhecidos. Vai daí e a nata de opinantes que por cá anda tratou logo de «escalpelizar», como eles dizem, o anunciado drama. Claro que não perceberam que o Mourinho ainda vai ganhar, no Chelsea e não só, muito mais do que as suas cabecinhas conseguem imaginar, mas já lá vamos. Olhem bem para a galeria: Judite de Sousa; aquele bloquista que canta nos Blind Zero, cujo nome não sei nem me interessa; Jorge Gabriel; António Pedro Vasconcelos; Luís Campos; Gabriel Alves; Eurico Gomes e Leonor Pinhão são do melhor que se pode arranjar para falar de futebol, estamos todos de acordo. Recentemente, de uma maneira ou de outra, lá apareceram a falar de Mourinho e da sua vidinha. Enfim, opiniões de alto calibre. Sendo assim, sinto-me no dever de fazer contraponto com eles e postar aqui qualquer coisa que seja representativa do grupo dos que não entendem nada de bola e ao qual eu convictamente pertenço. Isto é tipo aquela cena do contraditório: os inteligentes opinam e nós, os burros, também temos que falar. Alguns chamam a isto «regras democráticas».
Vamos lá então. Uns têm falado do Mourinho porque ele perdeu com um golo marcado por um jogador – o Boa Morte - que já jogou no SPORTING. Até aí nada de mais; somos bons em todo o lado. Outros andam a falar na eliminatória perdida contra o Barcelona. Há até alguns que acreditam que o Manchester ainda pode apanhar o Chelsea. Muitos têm opinado por causa de um livro que uns tipos quaisquer escreveram sobre os segredos de balneário das equipas treinadas pelo Mourinho. Deixem-me introduzir aqui uma experiência pessoal importante. Quando eu jogava futebol – mal, claro – o segredo de balneário que intrigava toda a equipa era saber quem era o gajo que se estava sempre a peidar. Revelação do segredo: viemos mais tarde a saber que o autor das bombas silenciosas era o tipo que era sempre o primeiro a dizer: «quem foi o cabrão?». E para descobrirmos isso nem precisámos de escrever um livro. Mas pronto, o Mourinho é um gajo importante, tem que ter muitos livros sobre ele. No futebol, daqui para a frente, a importância das figuras vai ser medida pelo número de livros sobre si que já foram publicados. Vi outro dia um dos chefes dos Super Dragões dizer que «tinha sido muito boa a festa de lançamento do seu livro». Faço ideia: em Aveiras de Cima vamos às bebidas; na Mealhada o que é bom é orientar sandes de paio com alface, e por aí fora. Não brinquemos: a vida de um dirigente de claque deve ser interessantíssima e não deveria ficar pelo livro, devia dar filme. Mas retomemos o nosso nobre assunto: as rolhas. É claro que não é só em Inglaterra que há uma data de gajos a apanharem pedras do chão para acertarem no Mourinho quando ele estiver caído. Tal como aquele bandalho do Leiria fez ao João Moutinho: mandou-o ao chão para depois o poder pontapear, enfim, para se ser homem não basta usar calças. E o Mourinho sabe bem que há uma data de gajos a aguardar esse momento: basta que ele não ganhe um jogo e vem logo aquela conversa do «ah e tal, o Mourinho se calhar não é tão bom como dizem por aí».
Claro que o Mourinho não sabe tudo, ao contrário do que apregoavam os que agora começam a saltar da toca para o atacarem. O Mourinho até do Fernando Santos levou uma vez um baile de bola em Alvalade, o que lhe deu para desatar a rasgar uma camisola. Do mesmo modo que este ano já levou um baile de bola do Barcelona e tratou logo de reafirmar a sua costela de treinador tuga, invocando um árbitro como o culpado da sua derrota, derrota esta que se deveu apenas ao facto de o Barcelona ter melhores jogadores e ter jogado muito melhor.
E estamos então a chegar ao que interessa: a manichização do Chelsea. A ilustre paleta de comentadores que eu honradamente citei no início do meu post prefere falar de arrogância; fatos Armani; disciplina e declarações polémicas sempre que se refere a Mourinho. Mas eu, em total veneração pela sapiência infinita de tal paleta, gostava mesmo era de os ouvir falar, por exemplo, sobre as contratações do Chelsea, o tal clube que eles estão sempre a dizer que tem dinheiro para comprar todos e mais algum. É que nós, os burros da bola, achamos que a eliminação frente ao Barcelona não se deveu à expulsão do Del Horno mas sim ao facto de o Barcelona jogar muito melhor. E sobre este assunto concreto eu tenho a dizer que ofereço quinhentos paus, moeda antiga, a quem me explicar o que é que o Maniche está a fazer no Chelsea, em matéria de futebol, claro. É que ver aquele jogador a alinhar pelo Chelsea não cola: há ali qualquer coisa que não bate certo. Imaginem a seguinte situação: um baixote de penteado parolo, vestindo uma camisa Sacoor com as cores todas do arco-íris e um rato Mickey nas costas, com duas tatuagens em árabe que dizem «Amélia Gomes – I Love you Forever» e «O Tó Foi-me à Bilha» a sair de um Bentley... O que é que qualquer gajo diz logo: há qualquer coisa que não está ali a bater certo; alguém trocou o guião. Pois o Chelsea é isso mesmo: cada vez mais uma equipa incongruente que se vai aguentando à custa de quatro ou cinco jogadores extraordinários e de um treinador com bastantes conhecimentos de futebol. Mas também com muita malta sem o mínimo de classe para jogar numa equipa de topo inglesa. O que eu não sei é se esta estratégia ainda está para durar muito. Julgo que no fim desta época o Chelsea vai ter um autocarro de nove lugares para dispensar e mais uns milhões para gastar.
Mas o Mourinho já disse que o futebol não interessa nada quando comparado com a gripe das aves: o importante é ter aparecido um pássaro morto na Escócia, diz ele. A mim, os pássaros que aparecem mortos na Escócia não me interessam para nada. Mas partilho uma preocupação com Mourinho: as rolhas. Isso mesmo: R-O-L-H-A-S. Mourinho faz uma campanha, de borla, em defesa da rolha de cortiça. Eu estou com ele. Preocupa-me que 16% do mercado já seja de rolhas sintéticas, número com tendência para crescer. Eu também sou pela rolha natural, cortiça alentejana, de preferência. É que as rolhas de plástico dão cabo do vinho. Sobretudo se a garrafa ficar deitada com o vinho em contacto com o plástico. Isso afecta muito a qualidade do produto. Rigoroso como eu sou – nenhum dos que me lê duvida desta evidência – até a água do luso devia vir engarrafada com rolhas de cortiça, mesmo vindo em garrafas de plástico: o que conta é sempre o que tapa. Também não me venham falar daquelas rolhas feitas de restos de cortiça comprimidos, a chamada rolha técnica. Isso não é a mesma coisa. Rolha que é rolha tem que ser feita em cortiça genuína, alentejana, sete aninhos na árvore antes de ser arrancada. E isso é o que a malta lá fora tem que meter na cabeça. Tarefa difícil que só o Mourinho será capaz de empreender. Quem dá a titularidade do Chelsea a um jogador como o Maniche é capaz de convencer o mundo inteiro a comprar rolhas de cortiça, não tenhamos dúvidas.
Se o Mourinho for para o Milão, no final desta época, tudo bem. Os italianos produzem vinho e têm que perceber que rolhas só as portuguesas. Se for para o Real Madrid, vale o mesmo: a cortiça portuguesa é melhor do que a espanhola e os espanhóis precisam de saber isso.
Pronto. Eu, se fosse adepto do Chelsea, não me preocupava com o facto de ver um tal de Ribeiro, nome artístico: Maniche, a vestir a camisola da minha equipa. Preocupava-me com o pássaro que apareceu morto na Escócia. Como sou português, partilho o interesse por outro dos assuntos que interessam ao Mourinho: as rolhas de cortiça.
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