SPORTING CLUBE DE PORTUGAL - Eleições
Aguardei alguns dias até que os anunciados candidatos formalizassem as suas candidaturas. Deste modo pretendo referir-me aqui às ideias e objectivos anunciados pelos candidatos em vez de comentar intenções dispersamente atiradas para os meios de comunicação. Tomo como fonte as informações referidas pelas respectivas candidaturas.
Guilherme Lemos
Não conheço muito bem este candidato; sei que já foi dirigente do Estrela da Amadora e pouco mais. Nem sequer tinha ideia dele como pessoa tão interessada pelos destinos do SPORTING. E nisso não há mal nenhum. O que para mim é problema é aquilo que G. Lemos vem dizendo. O prospecto distribuído pela sua candidatura não é esclarecedor acerca do que ali está em causa. Começa logo por incorrer no erro de não ser minimamente claro: confunde diagnósticos com soluções e fala em projectos (conceito que não é o meu preferido) em vez de objectivos (o que eu gostava mais que os candidatos utilizassem). No que respeita a medidas concretas que G. Lemos pretende concretizar é o vazio total: são referidas intenções difusas sem nenhuma sustentação em termos práticos. Capazes de serem ditas por qualquer sócio mas que, por serem de tal modo vagas não significam nada de concreto. “Devolver o SPORTING aos sócios”; “Um SPORTING universal que seja o orgulho de todos os sportinguistas” e “Fortalecer a mística do SPORTING” são frases de tal modo vagas que não indicam nada acerca do que seria a gestão do clube. E muito menos justificam uma candidatura à presidência do clube. Se não fosse assim qualquer sócio se candidatava porque qualquer sócio pretende “fortalecer a mística do SPORTING”, por exemplo. No que respeita ao item intitulado “Actividade Económica”, esta candidatura é de uma pobreza colossal. Aponta duas medidas para a solução deste problema: “Recuperação e fidelização dos sócios” e “Campanha de angariação de novos sócios junto da nossa juventude”. Custa-me a acreditar que G. Lemos seja tão ingénuo ao ponto de crer que a “actividade económica” do SPORTING tem o seu core business na admissão de sócios. Como candidato, G. Lemos devia saber que as quotizações não são financeiramente suficientes para a sustentabilidade de um clube como o SPORTING. Os problemas económicos e de tesouraria do SPORTING têm que ser resolvidos de outro modo. Se G. Lemos não percebeu isto então é porque não percebeu nada do que é a gestão de um clube com a dimensão do SPORTING. Eu também desejo que o SPORTING tenha mais sócios e fidelize aqueles que já possui; mas não estou à espera que 80 mil pagantes (o que seria um óptimo nº) seja panaceia para os nossos males. O incremento de sócios é positivo. Mas é para os ter no estádio, a comprar artigos do clube, a apoiar as várias equipas do clube, a participar nos órgãos de discussão do clube e a viverem o clube. Isto contribuirá para a questão económica, mas não é por si só a solução. Apontar estas medidas revela, para mim, que este candidato não tem mais ideia nenhuma acerca da sustentabilidade financeira do clube, o que é muito mau para um candidato a presidente. Nem sequer vou comentar tópicos soltos que aparecem no prospecto como “Símbolos do clube”; “Velhas glórias” e “Provedor do sócio”. Não passam de frases vagas a apelar a um certo sentimentalismo dos sócios mas que não querem dizer nada. Mas não me dispenso de comentar este: “Formar homens”. G. Lemos deve julgar que o SPORTING é a tropa e a Academia deve ser um misto de recruta com internato juvenil. Completamente errado. Dos jovens atletas fazem-se grandes atletas quando a estrutura que os forma é organizada e tem objectivos claros, não só a nível desportivo, coisa que eu não acredito que G. Lemos seja capaz de implementar. Quanto às pessoas que G. Lemos indica não tenho nada a dizer porque não as conheço (o que é capaz de não ser bom sinal). E não tenho muito mais a referir: isto é para mim uma candidatura para marcar posição, sobretudo nos meios de comunicação e não para vir a dirigir o clube. Espero que tenha uma votação baixíssima apenas para demonstrar que os sócios do SPORTING sabem o que querem. Se há 50 anos isto bastava para se ser candidato, hoje não. E ainda bem.
Abrantes Mendes
Para perceber o que esta candidatura tem para dizer socorri-me do site oficial. Dispenso-me de comentar outra vez a salgalhada que aquilo é: nem é bom lembrar. A candidatura de A. Mendes – sem querer, ou talvez não – incorre no mesmo erro de misturar diagnóstico com objectivos a concretizar. O que eu acho que acontece porque se pretende lançar confusão na cabeça dos sócios. Vejamos: que sentido é que faz colocar a frase “Connosco não haverá delegações em gente que só se tem aproveitado do Clube!” na lista de objectivos? Um objectivo não é aquilo que se pretende realizar? Que raio de objectivo é este? Vamos à questão financeira: começa logo com uma contradição. A. Mendes diz que “Com tudo o que foi referido, o Sporting está hoje nas mãos de instituições bancárias e de algumas pessoas que nada têm de sportinguistas mas que se têm servido da “marca“ Sporting para movimentar valores que o Clube não tem mas que vai ter de pagar!” e depois vem dizer que “Iremos falar com a Banca para conhecer quais são os compromissos assumidos pelo Clube, porque queremos encontrar as melhores soluções para os respeitar”. Em que é que ficamos? Vão retirar o clube das “mãos da banca” e depois de onde vem o dinheiro? A. Mendes devia saber que este tipo de declarações, embora no imediato satisfaçam os ouvidos de alguns sócios, são perigosas porque começam logo por colocar o clube numa posição de inferioridade com a banca com a qual tem que negociar. Diz que “retira o clube das mãos da banca” e anuncia como trunfo eleitoral a possibilidade de contratualizar mais um empréstimo bancário de 20 milhões de euros… Acho bom que se decida: ou sim ou sopas – ou será que acha uma coisa de manhã e outra à tarde? A não ser que A. Mendes rompa todos os acordos financeiros com os bancos e apareça com o dinheiro necessário. Se conseguir fazer isso, que patenteie imediatamente a fórmula porque há milhões por esse mundo fora que não se importavam nada de deixar de estar nas mãos dos bancos, continuando a ter casa, carro, dinheiro para sustentar a família e, se possível um extra para as férias. Isto para mim não passa de uma frase fácil para cativar sócios: toda a gente sabe que um adepto se pauta sempre pela ideia de independência e auto-suficiência e, como tal soa bem ouvir isto. O problema é saber com que dinheiro é que se paga aos jogadores e demais funcionários do clube ao fim do mês. A. Mendes diz que estes empréstimos se devem ao total fracasso das anteriores direcções. Está enganado. É certo que houve anteriores direcções muito más (falarei disso mais à frente), mas o principal motivo do nosso endividamento foi a construção do estádio e da academia de Alcochete. E que eu tivesse dado conta nenhum dos actuais elementos desta candidatura apareceu na altura a dizer para não se fazerem essas obras porque elas implicavam a constituição de avultadas dívidas à banca. A grande maioria dos sportinguistas achou muito bem que se tivessem feito estes investimentos em infra-estruturas. Ainda acerca da questão financeira, veja-se como uma proposta - má, digo eu – redundou numa desautorização pública do candidato: como alternativa à venda de algum património não desportivo que, parece, tanto orgulho causa em alguns sócios, A. Mendes propõe que o clube contraia um empréstimo à banca no valor de 20 milhões de euros. Pondo de parte a contradição que é uma direcção que quer “tirar o clube das mãos das instituições bancárias” ir contrair mais um empréstimo, ou seja, mais uma despesa ao fim do mês, porque é isso que qualquer empréstimo significa, A. Mendes pediu uma reunião com um banco e veio logo para os meios de comunicação dizer que já tinha garantido o tal empréstimo. A desautorização deu-se quando um administrador, Alípio Dias, veio dizer que não se tratou de nada disso e que, como representante do banco, apenas disse aquilo que diz a outros parceiros deste tipo de empréstimos: que um acordo, financeiro tal como qualquer outro, pode sempre ser alterado desde que haja acordo das partes. A. Mendes pensou que os sócios do SPORTING iam ficar impressionados ao vê-lo sair a porta do banco e dizer: “está tratado”. Os sócios do SPORTING sabem que não é assim. Porque os sócios do SPORTING têm contas, vão aos bancos, pagam a prestação da casa, etc. Resumindo: A. Mendes diz que não vende património e que não quer estar dependente dos bancos. Só não diz é onde é que pretende ir buscar o dinheiro. Mas há mais. A. Mendes avança com a seguinte medida: “Fazer crescer as receitas em 70%”. Isto sem nenhuma sustentação. Disse 70% mas podia ter dito 150%. Como não diz a maneira de isso se fazer, qualquer número serve. Frases destas qualquer um é capaz de escrever 50. A questão não é o QUE SE QUER FAZER. Porque aí queremos todos o mesmo: um grande clube, em todos os aspectos. A questão é COMO SE VAI FAZER. Umas eleições servem para se dizer como é que se pretende cumprir um programa. Para que os sócios possam optar. Fico com a sensação que os sócios do SPORTING, assim, não estão perante uma alternativa. Estão apenas perante um vago projecto de intenções não especificadas, pontuado por muitos ressabiamentos e quezílias pessoais. Vamos ao futebol. Acaba por ser menos demorado porque, curiosamente, sobre este aspecto, A. Mendes vai dizendo muito pouco. Para este candidato: ”O FUTEBOL merecerá um empenhamento cuidado e responsável, com Sportinguistas especializados no seu comando, liderados pelo Presidente, Dr. Juiz Abrantes Mendes, de modo a sermos nós a gerir o nosso destino e não a entregá-lo a quem está ao serviço de interesses que lesam o Sporting!” Ou seja, parece que tudo se resume a um empenhamento "cuidado" e "responsável". Se esta é a única coisa que é capaz de dizer acerca do futebol, estamos mesmo muito mal! A. Mendes já disse que planeia ser ele e um director desportivo (José Couceiro) a gerir o futebol. José Couceiro??? Aquele que já lá esteve e que tanto disparate fez? A. Mendes diz que vai cortar com a “gestão danosa” do passado… indo buscar um dos protagonistas dessa mesma gestão péssima a todos os níveis. Ou já se esqueceu do papel que J. Couceiro desempenhou no SPORTING? Teríamos o Carlão do chupa-chupa de volta? Quanto aos nomes que foram avançados, nesta candidatura há pessoas por quem tenho estima como Isabel Trigo de Mira, Manuel Fernandese Jordão por exemplo. Ainda assim o que vejo lá é uma data de espontâneos que dão o nome e a cara, nalguns casos, apenas para aparecerem a dizer que são candidatos a “qualquer coisa” no SPORTING. Acredito que haja pessoas bem intencionadas nesta candidatura. Mas há lá outros… daqueles que nós até pagávamos para não os vermos lá. A título de exemplo, o Oceano. Trata-se de um daqueles ex-jogadores nos quais eu não vislumbro muita mística sportinguista, o que quer que isso seja. Que valor acrescentado é que ele pode trazer para o SPORTING? Quer-se embrulhar a criatura com a capa da mística e do sportinguismo. Mas ninguém sabe que cargo é que ele é capaz de desempenhar com competência e conhecimento de causa. Mais um “director desportivo”? Pelo amor da santa (e eu que nem sou crente, vejam lá…). Até podia vir aqui avivar a memória de A. Mendes com alguns factos históricos como a sua passagem pelo SPORTING em finais da década de 80. Mas não quero recordar um dos momentos mais tristes da história do nosso clube (Jorge Gonçalves, lembram-se?). Espero apenas que A. Mendes, que tanto gosta de referir as administrações passadas, se lembre que ele também já lá esteve, e não deixou grande saudade. Esta candidatura preocupa-me. Personifica o populismo básico para cativar alguns descontentes. Como se o descontentamento – de certa forma legítimo, diga-se – se resolvesse com estes chavões populistas. Uma candidatura que não responde a nada do que é essencial para a resolução dos problemas do clube, é o que eu acho.
Soares Franco
Devo começar por dizer que não gostei deste avança-recua-talvez avance de Soares Franco. Mas também acho que não é o fim do mundo mudar de opinião. Já todos mudámos de opinião acerca de muitas coisas e ainda bem que assim é. Sempre fui um defensor da realização de eleições no clube. A administração de Dias da Cunha estava remendada e incapaz de dar conta das tarefas que lhe cabiam como, infelizmente, tivemos oportunidade de verificar. Soares Franco não seria, à partida, a pessoa que eu indicaria para a candidatura ao cargo. Mas foi ele que se candidatou e constituiu uma lista com a qual somos confrontados. Por isso, é essa que temos que analisar. Aquilo que S. Franco apresenta como “Pilares do Projecto” são basicamente ideias que apostam na continuidade, mas com algumas inevitáveis mudanças. No plano económico / financeiro as coisas não diferem muito. O clube está endividado. Esse foi o preço a pagar pelas mudanças de infra-estruturas em que se envolveu. Eu acho essas mudanças importantes (estádio e academia) e, como tal, aceito que esse preço tenha que ser pago: temos que recorrer a parcerias financeiras com a banca porque o clube não tem capacidade de as suportar por si. Mas gostava que a gestão que S. Franco propõe fosse mais rigorosa do que aquela que tivemos até agora. Entendo que não há, nem nunca devia ter havido, lugar à criação de tanta empresa no grupo SPORTING, com tanto administrador e demais funcionários. Esse erro não pode voltar a ser cometido. Tal como não se pode voltar a cometer o erro de, para a área do futebol, por exemplo, se fazer tanta escolha mal feita: Fernando Santos, José Peseiro; Paulo de Andrade, Rui Meireles e mais alguns, foram péssimas escolhas que, cada um à sua maneira e com a sua contribuição específica, se traduziram em maus resultados desportivos e consequentemente económicos. Não se pode falhar duas vezes seguidas na contratação de treinador; não há estrutura que aguente. E não se pode contratar um administrador profissional para o futebol que, passados uns meses, se percebe que não está preparado para desempenhar esse cargo. Espero que S. Franco pense bem no que se passou porque há falhas que não se podem voltar a repetir. Das ideias que S. Franco apresenta para a questão económica / financeira concordo com a alienação de algum património não-desportivo, como já tive oportunidade de referir noutras ocasiões. Também acho que se deve tentar expandir o nº de sócios e a dinamização da área do marketing e apoio de sponsors, mas não tenho a veleidade de achar, como G. Lemos e A. Mendes que isso basta para resolver os problemas financeiros do clube. O equilíbrio financeiro do clube só se faz com uma equipa competitiva que ganhe algumas das provas em que participa: esse é o melhor marketing que pode haver. Nenhuma campanha de sócios angaria tantos como o facto de o clube vencer um campeonato. Nenhuma campanha de marketing faz vender tantas camisolas como o facto de termos um goleador como Jardel. O marketing no futebol não funciona do mesmo modo que em outras áreas. E há pretensos gestores e candidatos a gestores que ainda não entenderam isso. Isso é que é a mística. E a mística não se preserva por decreto assinado num folheto de campanha eleitoral. A mística constrói-se com vitórias. No que diz respeito ao papel dos sócios, acho que S. Franco deve apostar em fazer mais do que até aqui foi feito. Aos sócios deve ser dada importância no modo como eles participam na vida do clube. A este respeito temos que arrepiar caminho porque o que foi feito nos últimos anos foi muito mau. Quanto ao ecletismo, entendo que o clube o deve manter por ser vital para a solidificação da ideia do SPORTING como o melhor clube português e um dos melhores do mundo. Acho que isso deve passar pela dinamização de parcerias com o mundo empresarial. Assim sendo acho que devemos ser cautelosos na introdução de mais modalidades. Mais vale preservar aquelas que já temos (andebol e atletismo, por exemplo) do que estar a introduzir modalidades que daqui por três anos fecham sem ganhar nada e com ordenados em atraso. Também quero que o SPORTING volte a ter outras modalidades. Prefiro que esses passos sejam dados com cautelas de modo a que não se falhe. No que diz respeito às pessoas, devo dizer que a lista de S. Franco é a que engloba aqueles que eu acho os mais capazes para a tarefa que se avizinha. Destaco apenas Miguel Ribeiro Telles e José Eduardo Bettencourt porque são dirigentes em quem deposito esperança na espinhosa missão que é gerir o maior clube português: o nosso SPORTING.
Vou votar em S. Franco. E voto porque entendo que esta é, de todas, a lista que apresenta as melhores ideias, que as sustenta melhor e que indica as pessoas mais capazes de as concretizar. Faço isto em nome do SPORTING. Prolifera por aí uma onda que consiste em fazer crer que quem apoia S. Franco tem um qualquer interesse escondido, ao passo que os apoiantes das outras listas é que são os “sérios” e “abnegados”. Não acredito neste tipo de visões maniqueístas. Sou sócio e accionista da SAD e é o SPORTING que eu defendo e defenderei.
VIVA O SPORTING! SEMPRE!
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