Friday, September 05, 2003

Scolari

Não sou, nem nunca fui, grande adepto de Scolari como treinador. Acho que ele é apenas um treinador mediano, igual a centenas de outros. Acontece é que está muito sobrevalorizado pelo facto de ter sido campeão do mundo, o que, por si só, não pode de modo alguma atestar acerca da grande qualidade de um treinador.
Scolari não chegou em paz ao futebol português. Sobretudo por culpa dos que já cá estavam, mas também por sua culpa. Começou logo com a questão dos vencimentos. O que Scolari solicitou é exagerado para os padrões de Portugal. Claro que Madaíl, fazendo justiça ao que dele sabemos, tratou logo de fazer todo o tipo de cedências, incluindo a questão dos adjuntos. Ainda estamos para ver o problema que o salário de Scolari vai lançar no pós-Scolari: qual é o treinador português que, depois, estará na disponibilidade de trabalhar por 2 mil contos por mês? E um estrangeiro de qualidade também não aceitará trabalhar por menos do que aquilo que Scolari actualmente aufere.
Depois foram os «agentes do futebol». Os «agentes do futebol» são uma espécie de eminência parda que inclui dirigentes, jornalistas, jogadores VIP e outros. Não significam nada de substancial a não ser o facto de fazerem sempre muito barulho em função dos seus interesses pessoais.
E aí é que a coisa foi pior: Pinto da Costa, ainda Scolari não tinha sido contratado, já dizia que não concordava. Quanto aos jornalistas, começaram por falar muito mas, depois, quando deviam falar, ou seja, agora, trataram logo de se calar, abrindo a boca episodicamente apenas para dizer que «sim senhor, está tudo bem».
Pinto da Costa ficou provavelmente chateado com o facto de, daqui em diante, não poder ser voz activa no que diz respeito à convocatória de jogadores. E, a partir daí, tratou logo de arregimentar o papagaio que treina a sua equipa para os ataques ao seleccionador. Alguns com razão, outros sem razão, mas os papagaios são assim mesmo: nunca se calam e acabam sempre por repetir aquilo que o dono diz muitas vezes. O caso Baía não é caso nenhum, como o próprio tratou de demonstrar no jogo contra o Estrela da Amadora: há 3 ou 4 guarda-redes melhores do que ele, mais novos e com menos cagança. (e sem fita no cabelo!)
Os jogadores que têm sido seleccionados não disseram muito mas trataram de, em campo, jogar pela selecção como se aquele fosse o maior frete das suas vidas, o que se tem vindo a reflectir nos resultados desportivos. Resultados estes que não têm sido, nem de longe, nem de perto, positivos. À excepção do jogo com o Brasil o comportamento da selecção tem sido globalmente negativo.
Scolari lá continua, sempre mais preocupado em fazer vincar a sua opinião do que em resolver as questões que importam. O seu objectivo central é afirmar que é «ele que manda», em vez de colocar a selecção a jogar como deve ser. Desde que seja «ele a mandar» está tudo bem.
Há, à vontade, 4 ou 5 selecções europeias bem melhores que a portuguesa, neste momento. Por isso a fasquia está a ser colocada demasiado alto. Os portugueses são especialistas em fasquias elevadas, com os resultados que se tem visto. E não se esqueça Scolari que os jogos do europeu não vão ser arbitrados pelo Paulo Costa nem pelo Olegário; escusa o Deco de se mandar para o chão a toda a hora que isso, no europeu, não vai surtir o efeito que tem aqui no campeonato.
Há ainda a rábula das convocatórias-surpresa com que Scolari tem brindado «os Manéis». Não me parece que isso seja propriamente provocação: entendo que se trata, mais uma vez, de uma maneira de definir a sua posição (nem que para isso tenha que convocar um apanha-bolas). O homem é capaz de tudo apenas para dizer que é ele que manda.
Concluo afirmando que não acredito que a selecção portuguesa se classifique nos 4 primeiros.
Não será só culpa de Scolari, mas isso também não interessa porque no futebol português as culpas morrem sempre solteiras.
Até lá, ao que se afigura, ainda vamos ter mais umas estórias para nos rirmos um pouco.

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