Almas ideias sobre o momento do SPORTING
A actual situação do SPORTING é complicada. Percebo a vontade dos dirigentes e equipa técnica de fazer os possíveis para acalmar os ânimos dos sócios e de todos aqueles que se interessam pelo clube. Mas o que se está a passar sugere que se tomem medidas a bem do clube. É neste contexto que deixo aqui algumas reflexões acerca do momento que a equipa de futebol vive.
Começo com a constatação de que o que não está bem no SPORTING não é apenas o facto de não ter ganho os últimos dois jogos do campeonato. As coisas assim colocadas, sugerem que se considere um verdadeiro disparate proceder a mudanças no clube só porque não se ganharam dois jogos. O problema é outro: é que o facto de não termos ganho os últimos dois jogos é, acima de tudo, revelador de que há qualquer coisa no SPORTING, actualmente, que não está bem. E isso é que nos deve interessar discutir. Serve isto para avisar, quem quer que seja, que lançar dúvidas ou sugestões acerca da condução do clube não implica necessariamente que se esteja a gerir o clube da bancada ao sabor dos resultados. Estamos todos de acordo que esse tipo de gestão à Vale e Azevedo e, num certo sentido, à Florentino Perez é péssima para qualquer clube com ambições, como se está a verificar. Aquilo para que aponto é antes um reflexão acerca de um momento mau, reflexão essa que não pode ser adiada, sob pena de termos que vir a suportar danos irreparáveis, ou quase.
A direcção do SPORTING foi eleita democraticamente nas urnas, sem pressões de capangas de centro de musculação como nalguns clubes que temporariamente por aí andam felizes da vida. A actual direcção da SAD, depois da enigmática demissão de José E. Bettencourt, também está no desempenho de funções com plena legitimidade. Quero, acima de tudo, que essa mesma legitimidade continue a ser respeitada, como é característica do clube. Contudo, convém não esquecer que os estatutos do clube prevêem possibilidades e mecanismos de interpelação e contestação do rumo seguido pelos dirigentes, que são absolutamente legítimos e não têm nada que ver com o populismo de serem os que berram mais alto no estádio a dizer o que se deve fazer com a equipa técnica. Era o que mais faltava, os sócios de um clube terem que estar calados ou cegamente devotos perante a actuação de uma direcção.
Devo referir que a actual direcção tem tomado medidas bastante positivas para o rumo do clube. Neste momento difícil é justo que se diga que a construção do novo estádio, a construção da Academia SPORTING de Alcochete, a redução de algum do passivo, a negociação dos necessários financiamentos à banca, bem como as tentativas de equilíbrio financeiro devem ser referidos como aspectos positivos. Porém, esta direcção também tem cometido erros, e é sobre esses que importa aqui falar um pouco, pois são eles, segundo creio, os responsáveis pela situação actual de algum desacerto. A política de aquisições de jogadores, sul-americana demais para o meu gosto; a contratação da equipa técnica liderada por F. Santos e, ao que parece, da liderada por J. Peseiro, a política de relações com outros clubes, bem como a metodologia de comunicação com o exterior podem, a meu ver, ser indicados como aspectos negativos da gestão do clube. Aqui radica um dos pontos que eu considero vital – qualquer um considerará – no que deve ser a política de aquisição de activos do clube: a contratação de equipas técnicas e de jogadores. E aí entendo que tem que se assumir com frontalidade o facto de se ter que considerar como um grande falhanço a contratação sucessiva de duas equipas técnicas incapazes de servir os objectivos do clube. O mesmo se pode dizer dos jogadores. Alguns dirão que falhar contratações acontece a todos, pois não se trata de matemática. É certo. O que não se pode é falhar em catadupa. Para mim passa os limites do aceitável o número de erros na constituição do plantel nas duas últimas épocas.
Que fazer? Demissão imediata de direcção, equipa técnica e despedimento de alguns jogadores? Nada disso: tal não é possível e em vez de aligeirar o problema só o agravaria mais ainda. Entendo, a este respeito, que devem ser seguidos os procedimentos normais em instituições de bem, geridas por pessoas de bem. A direcção deve convocar com alguma brevidade uma assembleia geral onde proporia a votação de uma moção / voto de confiança que, a ser aprovado, legitimaria os dirigentes, a ser recusado conduziria a um situação de eleições antecipadas. É claro que todos os mandatos devem ser levados até ao fim, dirão alguns. Mas também é óbvio que há alturas em que as instituições, devido ao que nelas se passa, mudam substancialmente e é para isso mesmo que a assembleia geral é soberana no que respeita aos destinos dessa instituição. Dirão os dirigentes que o voto democrático lhes confiou um mandato que ainda não terminou e que, em virtude disso se acham legitimados a dirigir os destinos do clube até ao fim desse mesmo mandato. É a opinião deles. A minha é a de que as assembleias gerais devem servir para mais do que bater palmas àqueles que se inscrevem para durante os dois ou três minutos concedidos mandarem umas bocas ao clube galináceo. Para nos divertirmos com esse clube temos meios mais eficazes como assistir às conferências de imprensa do A. Magalhães ou às inaugurações de «casas» que o rei da borracha tenta arranjar todas as semanas. Dão sempre excelentes momentos televisivos. Verdadeiramente fantástico para nós era ter Vilarinho a marcar penáltis todos os dias, lá nas festas do PSD. Mas o homem retirou-se, paciência. Voltando ao que interessa, creio que a assembleia geral é uma forma de devolver a palavra aos sócios. E também uma maneira de fortalecer a posição dos actuais dirigentes caso a sua prestação seja apoiada. Muita coisa mudou desde as eleições; importa perceber a vontade daqueles que são o bem mais precioso do SPORTING, os seus sócios. E digo isto numa perspectiva de dar seguimento aos trâmites legais do clube, já que é assim que querem. Eu – o gajo que assina com o pseudónimo Violinomaster – se fosse responsável pela falha na contratação de duas equipas técnicas seguidas, demitia-me. Porque entendo que há erros que não podem passar em claro, como se de factos absolutamente normais se tratasse. Se ainda assim achasse que poderia continuar a gerir os destinos do clube, só tinha que me voltar a candidatar e esperar pela soberana decisão dos sócios. Os dirigentes que lá estão agora acham que têm condições para continuar na liderança do clube? É a opinião deles. Vamos então ver qual a opinião dos sócios.
Quanto à continuidade da equipa técnica, no imediato? Seria normal que J. Peseiro já tivesse posto o lugar à disposição, para que a direcção pudesse decidir o seu destino. J. Peseiro acha que tem condições para continuar. É a legítima opinião dele. Caberá à direcção decidir o que fazer. De qualquer dos modos, em caso de mudança da direcção acho que é absolutamente legítimo que seja «reequacionada » a situação do treinador. Por isso é que acho vital que se faça esse «ponto da situação» em assembleia geral. Será absolutamente insustentável que uma direcção desapoiada pelos sócios consiga manter uma equipa técnica inoperante. Para que as coisas não cheguem a esse ponto é altura de parar para pensar. Sem histerias, sem agitações à saída dos jogos e sem cânticos insultuosos para com representantes do clube: é de uma forma serena que o SPORTING deve encontrar o seu caminho.
Desejo é que não se esqueçam que há decisões que tomadas no momento certo são óptimas, tomadas um pouco depois são desastrosas.
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