Diz o Figo
Luís Figo é um dos melhores jogadores de sempre do futebol português. Disso ninguém tem dúvidas. Porém, isso não lhe dá o estatuto de se tornar numa espécie de intocável, que é o que parece que ele quer ser. Com a colaboração de uma certa comunicação social, que nunca tem a coragem de dizer seja o que for a esta «geração de ouro», Figo lembrou-se de investir contra uns moínhos de vento, daqueles que existem na cabeça da tal «geração de ouro».
E o que diz Figo? Que só deve falar de futebol quem «entende» de futebol. Não especifica o que é que ele considera que é «entender» de futebol, mas lá foi dizendo que tal actividade deve ser reservada aos «experts» na matéria. Até parece justo e correcto. De facto, quem não entende nada de medicina não se deve por a tratar da saúde das pessoas, assim como quem não entende de engenharia não deve começar a construir pontes. O que Figo não entende é que no futebol as coisas se passam de maneira diferente, tal como na música, por exemplo. Qualquer jogador e treinador de futebol, a partir do momento em que se exibe publicamente, está, no fundo, a expor-se a todo o tipo de comentários: quem paga os bilhetes dos jogos a isso tem direito. Tal como um músico que grava um disco tem que aceitar que o que faz seja criticado; foi para isso que ele editou ao público. Se um jogador não quer ser submetido ao escrutínio de terceiros tem bom remédio, aluga um campo, joga com os amigos sem ninguém a assistir e fica tranquilo que assim já ninguém o critica. É capaz de não ganhar tanto dinheiro, mas isso certamente não o deve incomodar porque ele faz isso por amor à camisola. Tal como um músico que não quer ser criticado e que resolve tocar apenas para a namorada - isto no caso de ela gostar mesmo muito dele - e assim já não se submete às indesejáveis críticas.
Acontece que o futebol é uma actividade pública, na medida em que tudo aí aponta para o facto de o público ser um factor determinante no processo: pagando quotas a clubes; sendo accionista de uma SAD; pagando os bilhetes do jogos; adquirindo merchandising; assinando canais codificados; etc. Ou seja, tudo aquilo que sustenta o salário de Figo e dos seus colegas. Será que Figo já pensou que sem esta participação do público o futebol não existiria tal como é, com a capacidade de gerar todas estas receitas?
Diz Figo que não opina sobre agricultura nem sobre teatro. Pois eu acho que faz mal. Talvez sobre esses assuntos consiga dizer coisas mais interessantes do que aquelas que diz sobre futebol. Quem sabe se não temos aqui um Sousa Veloso, ou um erudito crítico teatral?
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