Monday, October 17, 2005

Mudança

O que se está a passar no SPORTING é triste, muito triste.
Para não estarmos aqui com muitos rodeios, vou directo ao assunto. A administração do SPORTING é a principal responsável pela situação. O treinador tem responsabilidades, provavelmente muitas. Mas quem gere o clube são os dirigentes. E os dirigentes actuais do SPORTING mostram, a vários níveis, serem incapazes de comandar o SPORTING. Resultado: um clube à deriva.
Enumero, não exaustivamente, aquelas que me parecem ser as maiores falhas da direcção, a maior parte delas bastante graves.
A direcção do SPORTING não soube nunca relacionar-se com a SAD. Falhas na escolha dos administradores e incompatibilidades de vária ordem traduziram-se num saltitanço constante dos administradores e funcionários da SAD. Desde que Dias da Cunha tomou posse já passou pela SAD uma dúzia de administradores e outros altos funcionários que acabaram por ter que sair devido a incompatibilidades com o presidente. Pessoas decisivas na vida do clube como Miguel Ribeiro Telles, passando por altos funcionários como Carlos Freitas, até pessoas do círculo próximo de Dias da Cunha, como Soares Franco, ninguém escapa: mais mês, menos mês lá vem uma desculpa esfarrapada para mais uma demissão. Estabilidade, elemento fundamental numa gestão deste tipo de actividades, é coisa que há muito não há no SPORTING. Há sempre alguém que está para sair, menos Dias da Cunha, claro, cujo único objectivo é ser o «presidente do centenário».
Há também a questão dos treinadores. Depois do erro clamoroso que foi a escolha de Fernando Santos, seguiu-se mais uma decisão errada: a de contratar José Peseiro, um treinador inexperiente e incapaz de suportar situações de convulsão como aquelas que vieram a surgir no SPORTING. Quando o SPORTING precisava de treinadores com capacidade de exercerem lideranças fortes, a administração ia à procura dos treinadores mais baratos do mercado, como se o salário fosse o critério mais importante na escolha de um treinador.
A relação com os adeptos também não tem sido a mais correcta. Com Dias da Cunha a querer vincar a toda a hora que não toma decisões em função das opiniões dos sócios, estes sentem-se, cada vez mais, como meros contribuintes a quem poucas vezes é dada a palavra. E nem me apetece voltar a falar aqui de atitudes disparatadas como aquela de permitir que um grupo de adeptos entre nas instalações do clube para interpelar jogadores e treinador. Ainda hoje estou para saber se Dias da Cunha se apercebeu da gravidade desta atitude.
Podia continuar, falando das relações com outros clubes e com os órgãos de gestão do futebol português, mas isso ficará para outra altura.
Por agora digo apenas que a actual situação é insustentável. Receio que Dias da Cunha ainda não se tenha apercebido do barril de pólvora que se está ali a acumular e que pode explodir com consequências desagradáveis a qualquer momento.
Confesso que tenho dificuldade em perceber esta vontade de nada mudar de Dias da Cunha. Não acredito que seja o amor à causa que o mantém no seu lugar. A questão do centenário bem como a vontade de levar o mandato até ao fim também não são razões suficientes para esta cegueira. Posso estar errado, mas esta fuga para a frente deve-se, a meu ver, a uma questão de teimosia: Dias da Cunha não quer assumir os seus erros de gestão no clube. E julga que os pode tapar com uma irresponsável manutenção da situação, qualquer que ela seja.
Esta história dos 15 dias de reflexão é um bom exemplo disso: claro que não se reflectiu nada porque não havia nada para reflectir. O que se fez foi adiar por mais 15 dias a insustentável situação, mas com tudo a continuar na mesma. Reflectir para quê? O diagnóstico está feito: o SPORTING precisa de eleições porque esta direcção já não tem legitimidade moral para gerir o clube e está à beira de perder a legal por falta de quorum, tantas têm sido as demissões. O SPORTING precisa de mudar de equipa técnica porque esta mostra, de jogo para jogo, como está ali para se afundar em conjunto com o resto, não sendo capaz de expressar a mais leve vontade de mudança. O SPORTING precisa de dispensar alguns jogadores, contratar outros e, sobretudo, impor um mínimo de profissionalismo aos que lá ficam, que é coisa que parece não existir ali muito. Só uma pessoa que está completamente a leste do que é o futebol permite que um jogador como Beto continue a ser capitão do SPORTING depois do que fez a um colega de equipa. O SPORTING precisa de trazer os sócios para a vida do clube, em vez de os espantar, esperando apenas que eles paguem bem para ver os miseráveis jogos de futebol que lhes vão sendo oferecidos. Ou seja, o SPORTING precisa de mudar, imediatamente. Sob pena de se hipotecarem um conjunto de valores vitais da vida do clube que levarão outra dezena de anos a recuperar.
Tenho reparado que os sportinguistas vão divergindo quanto aos destinos do clube. Cada cabeça sua sentença e ainda bem que assim é. Mas numa coisa estamos todos de acordo: assim não vamos a lado nenhum. E não basta vir com blackouts e períodos de reflexão. Face ao estado a que esta direcção deixou levar as coisas, só com mudanças mais profundas é que poderemos resolver alguma coisa. E que se mude o mais rápido possível, enquanto é tempo. Eleições no clube, imediatamente!

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